Primeiro uivo!
Carta enviada à direção e parlamentares do PT eleitos pela região de Joinville - SC.
"A idade do PT praticamente coincide com as nossas. Nossas trajetórias em direção à compreensão de que é preciso se posicionar politicamente, lutar pela democracia e pelo pluralismo, resgatar a ética e a perseguição do bem comum no poder público e trabalhar para minimizar a extrema desigualdade social que nos assola acompanha a história e o crescimento do partido. Por isso, muito antes de nos filiarmos formalmente, travamos um compromisso com o Partido dos Trabalhadores. Identificamo-nos com suas bandeiras e seu esforço em se manter conectado e compromissado com as aspirações sociais contemporâneas. Filiamo-nos à ideologia e ao programa partidário e passamos a "ser PT", pois nos sentíamos contemplados nos seus valores e princípios.
Finalmente, depois de muita luta, o partido conquistou o mais alto cargo do poder executivo. Deparou-se com uma realidade dura, um sistema político por demais emaranhado, barreiras muito mais sólidas do que havia imaginado encontrar. E hoje está difícil entender esse novo movimento do partido diante de sua nova condição, tentando combinar tradição com renovação partidária, já que se tornou extremamente complexo identificar e compreender como atuam todas as forças envolvidas no sistema político nacional. Temos a sensação de que a vitória do pragmatismo desfigurou o partido.
Contudo, se nos falta fôlego e informação para dominar todas as questões envolvidas em âmbito nacional, sobram-nos fundamentos e experiência para avaliar o partido ao qual nos filiamos em nível local. A força que, até pouco tempo, estava comprometida com a mudança social, com a defesa da ética, da moralidade pública e do republicanismo, parece perder-se na obsessão de se tornar eficaz na luta política e institucional. A última campanha eleitoral evidenciou uma crise de degeneração política e moral do PT local. As carreiras individuais sobrepuseram-se ao projeto coletivo. São inúmeros os casos que alicerçam tal transformação: a centralização da coordenação da campanha; a falta de critério e avaliação para a definição dos gastos; a disputa acirrada e precipitada por cargos executivos; a falta de pluralismo; a desvalorização de companheiros engajados com o projeto partidário; o respeito incompreensível por alianças políticas confusas, incoerentes e inexistentes; a barganha política. Vimos companheiros detentores de cargos legislativos deixarem de lado o apoio a lutas e projetos sociais importantes para trabalharem prioritariamente pela manutenção de seus cargos. Vimos investirem na aparência e não no conteúdo.
De nossa parte, mantemos os mesmo valores e princípios que nos aproximaram do partido. Continuamos imbuídos da idéia de que a luta deve se dar em direção a uma sociedade que combine igualdade de direitos e respeito às diferenças. Esta luta, entendemos, pode ser feita independentemente de cargos; estes devem ser conseqüências de um trabalho que alcance as bases e surta resultados entre aqueles que inspiraram nossa concepção: trabalhadores, minorias e toda sorte de gente às margens do sistema capitalista excludente. No entanto, a sensação é de impotência diante de um cenário em que o poder parece ter se tornado um fim em si mesmo. Antigos adversários, comprometidos desde sempre com o sistema que tanto condenamos, passaram a compor o quadro "paz e amor". O selo do movimento hippie que nos antecedeu na contestação de uma sociedade injusta, discriminatória e segregacionista é reinterpretado como sinônimo de "se não puder vencer o inimigo, alie-se a ele".
Expusemos as nossas críticas, mas ninguém se pronunciou. Mais uma vez, talvez pela última, tentamos nos fazer ouvir. Não há espaço para atitudes intransigentes. Compreendemos que é preciso ter tolerância aos erros e debilidades, mas também coragem e brio para admitir as falhas e delas extrair lições e implementar medidas para superá-las. Por isso nos pronunciamos na esperança de motivar a reflexão, pois nosso desejo tem sido o de bater em retirada na direção de outros coletivos que acolham nossos anseios, projetos sociais sinceros e, porque não, nossas utopias. "
Finalmente, depois de muita luta, o partido conquistou o mais alto cargo do poder executivo. Deparou-se com uma realidade dura, um sistema político por demais emaranhado, barreiras muito mais sólidas do que havia imaginado encontrar. E hoje está difícil entender esse novo movimento do partido diante de sua nova condição, tentando combinar tradição com renovação partidária, já que se tornou extremamente complexo identificar e compreender como atuam todas as forças envolvidas no sistema político nacional. Temos a sensação de que a vitória do pragmatismo desfigurou o partido.
Contudo, se nos falta fôlego e informação para dominar todas as questões envolvidas em âmbito nacional, sobram-nos fundamentos e experiência para avaliar o partido ao qual nos filiamos em nível local. A força que, até pouco tempo, estava comprometida com a mudança social, com a defesa da ética, da moralidade pública e do republicanismo, parece perder-se na obsessão de se tornar eficaz na luta política e institucional. A última campanha eleitoral evidenciou uma crise de degeneração política e moral do PT local. As carreiras individuais sobrepuseram-se ao projeto coletivo. São inúmeros os casos que alicerçam tal transformação: a centralização da coordenação da campanha; a falta de critério e avaliação para a definição dos gastos; a disputa acirrada e precipitada por cargos executivos; a falta de pluralismo; a desvalorização de companheiros engajados com o projeto partidário; o respeito incompreensível por alianças políticas confusas, incoerentes e inexistentes; a barganha política. Vimos companheiros detentores de cargos legislativos deixarem de lado o apoio a lutas e projetos sociais importantes para trabalharem prioritariamente pela manutenção de seus cargos. Vimos investirem na aparência e não no conteúdo.
De nossa parte, mantemos os mesmo valores e princípios que nos aproximaram do partido. Continuamos imbuídos da idéia de que a luta deve se dar em direção a uma sociedade que combine igualdade de direitos e respeito às diferenças. Esta luta, entendemos, pode ser feita independentemente de cargos; estes devem ser conseqüências de um trabalho que alcance as bases e surta resultados entre aqueles que inspiraram nossa concepção: trabalhadores, minorias e toda sorte de gente às margens do sistema capitalista excludente. No entanto, a sensação é de impotência diante de um cenário em que o poder parece ter se tornado um fim em si mesmo. Antigos adversários, comprometidos desde sempre com o sistema que tanto condenamos, passaram a compor o quadro "paz e amor". O selo do movimento hippie que nos antecedeu na contestação de uma sociedade injusta, discriminatória e segregacionista é reinterpretado como sinônimo de "se não puder vencer o inimigo, alie-se a ele".
Expusemos as nossas críticas, mas ninguém se pronunciou. Mais uma vez, talvez pela última, tentamos nos fazer ouvir. Não há espaço para atitudes intransigentes. Compreendemos que é preciso ter tolerância aos erros e debilidades, mas também coragem e brio para admitir as falhas e delas extrair lições e implementar medidas para superá-las. Por isso nos pronunciamos na esperança de motivar a reflexão, pois nosso desejo tem sido o de bater em retirada na direção de outros coletivos que acolham nossos anseios, projetos sociais sinceros e, porque não, nossas utopias. "
Maria Elisa Máximo e Helena Máximo
2 Comments:
Eis que surge "uma luz no fim do túnel". Atitudes corajosas como esta me faz reforçar a convicção de que é possivel se caminhar em direção às utopias. O quanto delas conseguiremos alcançar? Difícil se antecipar. Mas seguramente fácil de se concluir que é o melhor caminho, pelo menos é o que nos confere maior dignidade no viver. Continuem assim com o máximo impeto e sempre vigiano.
Édi
Elisa e Helena,
Compactuo das suas considerações. Sempre acreditei que o PT não se deixaria enfeitiçar pelo Poder. Errei. Antes, eram apenas alguns Ministros manifestando que o grande objetivo em 2006 era a reeleição de LULA. Se juntaram a eles as principais lideranças do PT catarinense e local. Como vocês disseram, a luta por uma sociedade melhor é conseguida independentemente de cargos. Se assim é (e acredito que seja), cargos não podem ser o objetivo maior de um político. Espero, sinceramente, que as suas considerações (que não refletem um pensamento isolado) possa provocar reflexões e, principalmente, mudança de rumos.
Um grande abraço.
Juliano
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