Comunicação: a escolha pelo silêncio
É sempre difícil discutir sobre as agruras e os êxitos do jornalismo brasileiro. Uns dizem que a objetividade deve ser insistentemente perseguida e outros defendem a militância. A maioria segue as teorias americanas de difusão da informação, mas sempre encontramos os que preferem modelos menos positivos.
Mas, deixando de lado a necessidade de analisarmos se o jornalismo que lemos, ouvimos e vemos é engajado ou não, patrocinado ou não, sério ou marrom, existe uma necessidade primeira, que vem antes da notícia, da reportagem, do editorial, da nota. Jornalistas podem escolher falar ou calar. Nesse mundo "globalizado", onde as notícias pipocam por todos os lados, é necessário selecionar o que será notícia. Esse é o grande esquema.
Escolher falar do esforço do nosso querido presidente do mundo em expulsar os 14 mil soldados sírios do território libanês é escolher calar sobre os possíveis 120 mil soldados americanos que insistem em lutar por uma incompreensível democracia no Iraque. Noticiar a pressão do governo americano contra as armas nucleares mantidas pelo governo da Coréia do Norte é esquecer as 480 armas nucleares que os EUA mantêm somente na Europa. Escolher dedicar generosos dois minutos a uma matéria sobre os dez leões apreendidos pelo IBAMA em Minas Gerais, que serão doados a um zoológico na África, é escolher noticiar o incêndio numa favela da zona leste de São Paulo, que deixou 180 famílias desabrigadas, em apenas dez segundos. Tempo nitidamente insuficiente para encontrar possíveis causas e analisar conseqüências. Cito as palavras de Gustavo Barreto, do www.consciencia.net: "Não se sabe qual foi a causa. Repito: não se sabe qual foi a causa. Mas o Jornal Nacional nem se preocupou com isso: foi logo dizendo que o problema foi na rede elétrica, que é supostamente clandestina. Pronto: culpa dos moradores, quem mandou não ter dinheiro para ficar dentro da lei?"
É por essas e outras que continuo acreditando que o tal do jornalismo objetivo e imparcial é balela.
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