sexta-feira, março 04, 2005

Aos românticos

O que há de tão horroroso nos românticos? Românticos são ingênuos? Idealistas demais? Quem sabe... "irrealistas"...? Tenho a impressão de que o adjetivo "romântico" tem sido usado com um teimoso tom pejorativo.

Outro dia ouvi isso. Estávamos discutindo política. Isso poderia até explicar tudo, afinal, romantismo em política é bobagem. Por quê? Porque os bastidores da política - ainda não vou ousar pecar pelo generalismo - tendem a ser asquerosos. Porque a lei da política é a negociação e, quando se negocia, é necessário aprender a ceder mais do que gostaríamos. Porque o ideal acaba ficando muito longe da realidade. E... dizem que os românticos não concordam com isso. Os românticos são aquelas pessoas irritantes que teimam em acreditar em alguma coisa por muito e muito tempo. Pessoas que não fazem concessões fáceis. Que têm uma ética muito rígida. Que implicam com minúcias. Que querem um mundo utópico.

Outros tipos de romantismo guardam significativa proximidade - fato um pouco óbvio, já que se usa o mesmo termo para outras caracterizações.

Castro Alves é romântico: "Senhor Deus dos desgraçados!/Dizei-me vós, Senhor Deus!/Se é loucura... se é verdade/Tanto horror perante os céus?!".

Os divinos tons menores de Chopin são românticos.

Também chamam românticos aqueles que amam de forma incompreensiva, os que amam intensamente, que amam irracionalmente, impulsivamente,... os que amam. Aquelas pessoas que, por alguma razão, longe de seu amor, ouvem alguma música triste no rádio e dizem: "Isso tem tanto a ver comigo...". Certamente vivem na esperança estúpida de algum dia viver todas as fantasias que edificaram deste sentimento.

Certamente gostaria de ser tão ecleticamente romântica pelo resto da minha vida. Infelizmente, a impressão que dá é que o brilho dos olhos se apaga com o tempo. Parece que a decepção esmorece a paixão pelo ideal. O caminho se torna tão tortuoso que é difícil dizer se podemos realmente chegar em nosso objetivo. Mas... saibamos que o objetivo é alcançável por mais nebuloso que ele pareça. Sei que os verdadeiros românticos sempre encontram uma forma de recuperar o brilho de seus olhos. E... pode até ser que eles sejam "estúpidos", "ingênuos", "idealistas", "teimosos", mas eles somos as pessoas que mais valemos a pena nesse mundo.

6 Comments:

Blogger Helena Máximo said...

Um pouco menos de modéstia, quem sabe...

3/04/2005 11:40 PM  
Anonymous Anônimo said...

também espero que os românticos sobrevivam...

3/05/2005 12:40 AM  
Anonymous Anônimo said...

É, ...esta cada vez mais difícil ser romântico. Mas acredite, ...
eu continuo romantico...por mais que as condições atuais das relações interpessoais nos obriguem, cada vez mais sermos duramente racionais, eu continuo romantico.Mais que isso, ...continuo apaixonado pelas minhas máximas românticas.
Um beijo e um amaaaasssso do maximão.

3/05/2005 12:43 AM  
Anonymous Anônimo said...

É isso aí... Sou romântica por tudo isso... e porque acredito na justiça social, na igualdade de direitos e, por isso, na inteligência humana.Sou romântica porque prefiro me manifestar sobre o direito e isso se impõe à mente, a dignidade do cidadão, já que é inerente ao homem. Sou romântica porque sou gente e gente ama, se revela, não se esconde e nem se vende.
UIVEMOS...

3/05/2005 9:33 AM  
Anonymous Anônimo said...

Precisamos, com urgência, resgatar o romantismo na política: o ímpeto, a mobilização, a garra, a coragem de enfrentar a justiça, o direito, a descência humana. Abaixo o oportunismo, a falsa "ideologia da seriedade" em que vivemos.

3/05/2005 10:18 AM  
Anonymous Anônimo said...

No meu ponto de vista devemos tomar precauções abusivas quando tratamos do assunto "sensações humanas", tendo em vista que não possuem bordas definidas para se conseguir decifrar quando umas interagem com outras, ou quando se é uma e quando se é outra. É comum "nomearmos" situações, porque somos boa parte do tempo racionais e muitas nuances nos escapam aos sentidos. Mas.... deixemos de ser racionais.... ahhh! Nós, românticos!!! Somos altamente destrutivos, sem dúvida alguma. Qualquer tentativa de se criar dogmas, tabús, regras rígidas, lá estamos com nossos olhares brilhantes e pensamentos altruístas, mirando o céu e cantarolando aos ouvidos alheios todas as infinitas possibilidades. Trago comigo a certeza de que somos semeadores do futuro, saindo por aí, distribuindo nossas sementes de credulidade, esperança e amor complacente e nem sequer pensamos em querer um dia saborear os frutos que essas sementes irão produzir, porque uma vez maduros, estaremos novamente distribuindo sementes.

3/30/2005 12:14 PM  

Postar um comentário

<< Home