Apoios incompetentes(?)
É certo que, quando resolvemos administrar nossa vida, sempre chamamos as pessoas mais aptas que conhecemos para nos ajudar. Um arquiteto conhecido para dar uma mãozinha naquela reforma da casa, um parente advogado para tirar aquela dúvida cruel e ver se é possível se fazer justiça nesse país, um amigo bom de cozinha para ajudar naquele almoço especial de domingo. É... quem não tem conhecido, muitas vezes tem que procurar alguém que não cobre muito caro. O fato é que não é muito comum alguém, em sã consciência, chamar o padeiro da esquina para dar uma olhada no chuverio que, pela quinta vez, entrou em curto circuito, mesmo que se ganhe uma simpatia maior da criatura e o pãozinho saia mais barato depois disso.
"Em conversa com a cúpula do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ontem a Previdência ao senador Romero Jucá (RO) e a Integração Nacional ao atual Ministro das Comunicações, deputado federal Eunício de Oliveira (CE), em troca de aliança oficial do partido com o PT para a sua reeleição em 2006. (...) Após o encontro com o PMDB, Lula recebeu o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), e o Ministro do Turismo, o deputado federal petebista Walfrido Mares Guia (MG). (...) Lula disse a Walfrido que o cogitava para o Planejamento, mas perguntou se o partido confirmava o desejo manifestado ao Ministro José Dirceu (Casa Civil) de continuar com o Turismo. Jefferson e Mares Guia disseram que sim. Lula, então, respondeu que ele continuaria no Turismo, excluindo a pasta de mudanças, e prometeu dar uma estatal ao partido - cogita-se a Transpetro, subsidiária da Petrobrás." (Folha de S. Paulo - 10/03/2005)
Tenho que reiterar, aqui, que realmente não me acho capaz de discutir a complexidade das articulações para se manter a governabilidade de nosso país. Além disso, preciso alertar para a parcialidade de notícias como essa, que se baseiam em fontes não identificadas no corpo da matéria e que geralmente são terreno fértil para balões de ensaio. No entanto, suposições ou não, tais negociações estão acontecendo na cúpula do governo, que já anunciou a nova reforma ministerial. E, por isso mesmo, não posso deixar de expor minha enorme indignação em relação à forma displicente de tratar os bens e os serviços públicos - coisa tão difundida no sistema político nacional desde muito tempo -, quando um Ministro das Comunicações pode assumir a pasta da Integração Nacional e o do Turismo pode ficar à frente do Ministério do Planejamento como se cuidar de cavalos e de vacas fosse a mesma coisa, quando a presidência de uma estatal se torna um presente e não uma responsabilidade delegada por competência. Parece que o importante não é a eficiência e o bom funcionamento da Administração Pública, mas o comprometimento dos que a compõem, sempre pensando no resultado do próximo "sufrágio universal".
Longe de mim fazer crítica pela crítica ao Governo Lula. Ainda sou petista e ainda acho que temos um governo diferente dos outros. Sei que muito deve ser feito para se conseguir a necessária governabilidade, mas gostaria de entender quais são os limites. Os pesos e os contrapesos.
"O governo Lula é de alianças, não de coalizão. Entre ambos há uma colossal diferença. No de alianças, trocam-se cargos por apoio. No de coalizão, os aliados sentem-se no governo, co-responsáveis por sua gestão e, em decorrência, engajados até a medula no processo de governabilidade. (...) Num governo de coalizão, a composição ministerial obedece ao critério de proporcionalidade. Não é esse ou aquele personagem que é chamado a compor o ministério, mas o partido do qual provém. (...) A eleição de Severino Cavalcanti confirma esse ponto de vista que tenho defendido em todas as instâncias partidárias e no âmbito do próprio governo Lula, que tenho a honra de integrar. A iminência de nova reforma ministerial é ocasião oportuna para a adoção desses princípios, que, sem dúvida, darão ao governo e ao país a tranqüilidade indispensável ao cumprimento de suas metas e compromissos." (Paulo Lustosa, Secretário-Executivo do Ministério das Comunicações, Jornal do Brasil - 10/03/2005).
De coalizão ou de alianças, gostaria que alguém me convencesse de que os apoios são mais importantes que as competências.
1 Comments:
Bravo!! Bravo!! Também não sou eu quem irá lhe convencer disso, mas gostei muito da idéia de chamar o padeiro pra dar uma olhada no meu chuveiro. Só que, no meu caso, vou chamar o dono da barraca de açaí, pra ter descontos nas próximas tigelas :)
Também não sou nenhum político, mas por mais que não se goste disso, não há como ignorar fatos que nos afetam tão diretamente. Nunca cri que o Lula pudesse fazer milagres e nem sei se ele ou a direita poderiam fazer algo melhor (ou pior) do que já está, o fato é o que você mesma salientou: empresas devem ser administradas por empresários cada qual com sua especialização. Político só entende de tributo (é especialista nisso).
Sim! Muito obrigado pela visita! Volte sempre, Helena!
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