terça-feira, fevereiro 07, 2006

Pense no Haiti, reze pelo Brasil. (com sua licença, Caetano...)

Impressionantes as imagens das eleições no Haiti.

O país que ocupa um terço da ilha São Domingos (ou Hispaniola), na América Central, fazendo fronteira com a República Dominicana, fica muito próximo das Bahamas. Contradições da vida.

As eleições presidenciais e legislativas chegaram com 10 mil soldados e policiais pratulhando o país. Os 3,5 milhões de eleitores tinham apenas 840 postos de votação para exercer um direito democrático que lhes é facultativo, mas a movimentação de haitianos nas urnas superaria qualquer fila do INSS no Brasil.

Em cerca de 50 anos, o Haiti teve somente três eleições consideradas livres (1990, 1995 e 2000), mas elas foram intercaladas com golpes militares e revoltas civis. A última rebelião, em fevereiro de 2004, derrubou o presidente Jean-Bertrand Aristide, que ficou exilado na África do Sul. Os eleitores, então, depois de 4 adiamentos do pleito, saíram hoje de casa aos montes, desafiando possíveis atentados, a violência que assola o país, mostrando um nítido apreço pelo direito de escolher seus governantes.

Com todo o tumulto desta terça-feira, pelo menos três pessoas morreram. "Um policial foi linchado até a morte depois que matou a tiros uma pessoa durante uma confusão na entrada de um centro de votação". (Estadão, 07/02/06, 22h52min)

Mas será que os resultados de uma eleição como essa podem ser confiáveis? O chefe da Minustah (a missão da ONU no Haiti), Juan Gabriel Valdes, disse estar confiante de que desta vez as logísticas da eleição existem e de que essas serão as primeiras eleições em que será possível confiar completamente nos resultados (informações da BBC Brasil).

Não importa agora. O que mais me assombra é a vontade que esses haitianos carregavam no rosto. É o valor que evidentemente deram ao seu voto. Tenho escutado, cada vez mais, a indignação de brasileiros que pregam o voto facultativo. Não lhes tiro a razão. Num país como o nosso, onde se difunde progressivamente a escolha pelo menos pior, a adoção do voto facultativo poderia, pelo menos, pressionar os representantes do povo no poder a intensificar seu trabalho por esse mesmo povo. Só tenho certeza de uma coisa: se "os eleitores" de nossa república de bananas pudéssemos deliberar realmente se os políticos brasileiros merecem ou não nosso voto em 2006, acho que seria bastante difícil ver pessoas perambularem pelas ruas desse país no próximo domingo de eleições.