segunda-feira, outubro 10, 2005

Cidadãos de bem?!

Engraçada essa forma maniqueísta de ver o mundo, não?!

Pessoas podem ser boas ou podem não prestar. Existem os corruptos e os incorruptíveis. Os honestos e os safados. Aqueles que são bonitos e os que são feios. E, finalmente, existem os cidadãos de bem e os bandidos.

Certamente que é inevitável usar esse tipo de classificação volta e meia, mas, alguma vezes, seria bom refletir um pouco sobre ela. Creio ser possível dizer que os bandidos surgem dos cidadãos de bem. Claro que alguém deve achar isso uma heresia e, por isso, provavelmente procura, a todo custo, comprovar, um dia, que tal característica de conduta tem origem e determinação genética.

Mas a verdade é que, potencialmente, cidadãos de bem podem ser bandidos. E, pasmem, o contrário também pode ser verdadeiro. Bandidos podem ser cidadãos de bem.

Não é que o limite seja muito nebuloso. Sendo que nos encontramos num Estado de Direito, a qualificação de uma conduta criminosa é relativamente clara. Roubar, fraudar, usurpar, extorquir, chantagear, violentar, matar. Mas esse trânsito entre ser uma coisa e outra pode ser mais ordinário do que se pensa.
...
JOSÉ ROBERTO
Que porra de veneno é esse que não mata ninguém? O cara garantiu que uma gota matava um cavalo. Não se pode confiar em ninguém, puta que pariu, que inferno, nessas horas tenho vontade de morrer.

LAVÍNIA
Faz o implante, querido, um homem ham hum fica muito infeliz quando ham hum quando hum ham não consegue mais cumprir suas obrigações.

JOSÉ ROBERTO
Você vai ou não vai morrer?

LAVÍNIA
Vamos fazer de conta que ham hum eu morri. Pronto, morri. (fecha os olhos e deita a cabeça pra trás.)

JOSÉ ROBERTO (jogando-se sobre Lavínia, agarrando-a pelo pescoço, fazendo-a cair ao chão junto com a cadeira. Ajoelhado, ele esgana Lavínia)
Ham hum e morreu mesmo ham hum ham hum ham hum haam huuum!

Os dois ficam caídos no chão, imóveis.

JOSÉ ROBERTO (levantando-se)
Veneno de merda.

José Roberto anda pela cozinha. Apanha distraído um pedaço de endive, põe na boca e cospe.

JOSÉ ROBERTO
Endive. Quem foi que inventou essa merda? (Ajoelha ao lado de Lavínia.) Lavínia, Lavínia! (Sacode o corpo de Lavínia.) Você não está brincando, está? (Coloca o ouvido no peito dela.) Caramba, matei uma inocente, matei uma santa! Vou me entregar. Confesso tudo, mereço ser castigado.
...
(Rubem Fonseca, Idiotas que falam outra língua em O Buraco na Parede)

Mas a questão é se continuaremos ou não tendo a possibilidade de sermos cidadãos de bem armados. Pois... se quer saber, eu digo sim. Sim à recusa dessa possibilidade e desse direito. Abdico desse suposto direito de defesa instrumentalizado por algo construído em oposição ao direito à vida. E também não acredito que nenhum regime fascista em potencial se sentiria intimidado se eu carregasse uma arma de fogo na cintura. "Cidadãos de bem". O que significa isso exatamente? E, que tal: "cidadãos de bem armados", uni-vos em nome do nosso direito de matar!

* esse blog engorda novamente o movimento de blogagem coletiva do Nós na Rede.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Concordo plenamente com vc...!!!!!
Não aguento mais ouvir tanto absurdo e manipulação...E eu voto sim...
Eh preciso construir uma cultura de paz...
Beijos

10/16/2005 4:49 AM  
Blogger Mythus said...

Também não gosto do termo "cidadãos de bem", muito menos de outros termos como "mulher honesta" ou "homem médio".

Quanto ao post, preferi compilar quase tudo o que escrevi em vários lugares. Eu disse quase, porque se fosse tudo, nem eu teria paciência para terminar o texto.

Como eu disse em Makoto, mal posso esperar pelo fim desse debate!

10/21/2005 12:52 PM  

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