Salários: incongruências eternas?
Tem coisas que realmente não dá pra entender.
Uma criatura, formada em medicina, sem residência ainda, decide se afastar quilômetros de sua cidade natal e vai tentar a vida mais pro sul. Não demora nada e recebe uma proposta de trabalho: ganhar 2 mil e pouco para trabalhar em um balneário. O recém formado recusa, pois acha o salário muito baixo. Completamente virado pra lua, aparece-lhe outra oportunidade, numa cidade pequena, de receber 3 mil e pouco para trabalhar 12 horas. A tal criatura continua achando que a remuneração poderia ser melhor, mas aceita.
Condenável? Não. São anos de investimento e suposto estudo, certo?!
Até o final da semana passada, estavam abertas as inscrições para o teste seletivo para professor substituto em várias disciplinas da Universidade Federal do Paraná (de onde me orgulho de ter saído como "bacharel em Comunicação Social - habilitação Jornalismo). Havia, inclusive, uma vaga no Departamento de Comunicação. A remuneração, para 20 ou para 40 horas, você pode ver aqui. Meus botões me olharam com cara de desolação.
No meu último ano de faculdade, cursei a disciplina de Ética e Legislação em Jornalismo com uma professora substituta. Ficava indignada com a falta de preparo da moça. Achava absurdo como aquela cadeira estava sendo dada. Minha revolta não poderia ser menor: escolhi como tema principal de minha monografia a Lei de Imprensa de 1967.
Hoje, vejo que seria impossível para o departamento garantir a qualidade que desejaria de seu corpo docente. Bons professores precisam ser bem pagos. Se, pelo menos, o governo garantisse à universidade a contratação de professores efetivos através de concurso, os chefes e coordenadores de departamentos não precisariam torcer para que boas almas tenham a idéia de prestar serviço voluntário para a manutenção da qualidade da universidade pública.
2 Comments:
Creio que algumas coisas precisam ser consideradas:
- Ser professor, hoje, seja no ensino básico, fundamental ou superior, já não é mais essas coisas todas. Professor ainda ganha dinheiro a custa dos "filtros" (vestibular e concursos);
- Existem profissões que sempre foram marginalizadas por não exigirem diploma para a atividade: jornalista, radialista, administrador de empresas, profissionais de hotelaria e turismo, músico, ator, etc. Como "qualquer um" pode exercer a atividade, a "demana" de profissionais acaba se tornando maior que a "procura" nesses ramos;
- Profissionais da saúde, especialmente os médicos e odontólogos, têm atenção garantida do poder público, visto que a saúde é elementar para qualquer governo.
Não dá para comparar.
Enquanto as coisas estão como estão, eu fico me perguntando porque algumas pessoas que conheço fazem o curso de administração de empresas, aqui em João Pessoa, e ainda dizem que não têm a pretenção de sair dessa cidade.
Se a coisa é assim no Ensino Superior, imagine como é para nós, da Educação Básica? O nome já diz. Estamos na base e deveríamos, por isso, ser bem cuidados, bem formados, bem pagos. Qualquer semelhança disso com a realidade, porém, é mera coincidência.
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