terça-feira, julho 19, 2005

CPMI pictures

TV Senado virou mania. Os personagens que entram e saem da telinha andam mais ficcionais do que nunca. O risco de ficar zapeando os canais é cair numa sessão da CPMI dos Correios e não conseguir mais sair.

Veio-me à cabeça aqueles filmes de suspense terríveis, nos quais o final não parece mais novidade, mas não se consegue mais parar de prestar atenção no desenrolar das cenas. É ainda pior do que isso. Parece que estou numa poltrona daqueles ônibus executivos da Catarinense, exatamente no momento em que é ligada a TV topograficamente deslocada do veículo para exibir mais um filme de sessão da tarde. Ah... claro... não esqueçamos do ar condicionado ligado numa temperatura de 10 graus centígrados, como se quisessem os movimentos dos passageiros fossem reduzidos ao máximo. Não consigo pregar o olho e não importa o quão cansada esteja.

Na CPMI, os investigados e as testemunhas vêm e vão e parece que todos são suspeitos. Nem sei mais porque a comissão se chama “dos Correios”, já que a idoneidade da instituição não parece ser o principal objeto de investigação ali. Fico feliz por uma coisa pelo menos: quando vejo as sessões, até parece que nossos deputados trabalham de verdade. Mesmo assim, não consigo me convencer de que eles valem o dinheiro que custam ao erário público, pois fico me perguntando qual é a criatura sentada em uma daquelas cadeiras que não tem nenhum podre escondido embaixo da pose de santo. Confesso: um ou dois ainda me dão esperança. Mas também acredito que, quanto mais cara-de-pau e salafrário um seja, mais cacife ele tem para fazer as perguntas certas pros que também têm algum podre a revelar.

Tenho que concordar em uma coisa com o deputado Roberto Jefferson: acompanhei de perto uma campanha eleitoral para prefeito e sei – como 2 e 2 são 4 – que é muito mais que comum não se declararem todos os gastos nas disputas eleitorais. Contratos inteiros são “acertados” por debaixo dos panos e recibos de doadores têm grandes chances de estar abaixo da marca do zero grau. Algumas prestações de contas feitas ao TSE nem se preocupam em ser verossímeis, mas acho que a fiscalização está mais preocupada com a verificação de valores iguais entre receitas e despesas do que com o confronto de fatos (qualidade e quantidade da propaganda veiculada, material publicitário, nível de produção, contratos prováveis e todas essas coisas que todo mundo pode ver) e dados (o que se declara ter feito na campanha). Pra ser ainda mais sincera, pude perceber que existem alguns candidatos que nem se preocupam em manter parelhos os valores das despesas com os das receitas na declaração ao TSE, o que me deixa ainda mais boquiaberta.

Voltando à vaca fria, o filme continua. Com um roteiro espalhafatoso e desencontrado. Não se sabe quais mentiras escondem verdades e quais verdades geraram mentiras. Nunca vi produção tão compartilhada. Todo mundo quer meter o bedelho e tirar uma casquinha. A que sai nitidamente ganhando é a imprensa, que fala o que quer, nunca senta no banco dos réus e sempre chama todas as atenções para si.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É isso! É isso! :) Minha impressão é a mesma.

Eu tô muito perdido. Aliás, desde o primeiro depoimento do Roberto Jefferson.. e no dia seguinte escrevi algo nessa linha também. O universo do discurso. Todo mundo está dentro de uma bolha pairando no ar onde nada mais faz sentido e o chão fica cada vez mais looonge.

hehehe

Beijos!

7/19/2005 9:33 PM  
Blogger Mythus said...

E eu só fico me perguntando uma coisa, se quando eu vejo as CPIs lotadas de Deputados e Senadores (você já viu alguma dessas salas vazias?) quem é que fica na Câmara e no Senado votando nossas leis? Resposta: o quorum mínimo para que os trabalhos não sejam encerrados - e oxalá não peça o governo ou a oposição a recontagem do quorum, por que aí, é certeza, tem que chamar um ou outro lá nas CPIs para compô-lo.

7/25/2005 3:10 PM  
Blogger Ronzi Zacchi said...

Quando eu vejo a TV Senado eu meio que fico me sentindo literalmente lesado... não sei por quê.
Acho que de todo o circo que é aparente lá, nós que acabamos nos tornando palhaços.

7/25/2005 3:45 PM  

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