sexta-feira, abril 01, 2005

Terri Schiavo - E finalmente ela foi...

Quero ser lembrado pelos bons momentos - e até os maus - que vivi com aqueles que amo. Quando digo isso, um filme passa na minha mente. Não quero ser lembrado pelos anos entrevado numa cama em que eu não poderei fazer aquilo que gostaria e, na melhor das hipóteses, apenas expressar com dificuldade o que sinto. Não quero ser um estorvo - apesar de ninguém admitir isso - quero ser livre, inclusive para ir...

O que dizer de Terri Schiavo? Finalmente foste, vai com Deus! Tenho certeza que estão todos melhor assim - talvez não seus pais. O que posso dizer é que não havendo a tecnologia disponível e o grande conhecimento médico, Terri já teria ido há muito tempo. O que dizer de um "sistema" - conjunto de tecnologias, sentimentos e determinações legais - crenças - - que ressucita um corpo e o mantém vivo quando sua mente já foi? Ou que nada pode fazer para possibilitar a volta à uma vida minimamente normal?

O que é viver ou morrer dignamente? Quem sabe deixemos isso para que cada um decida? Ainda que seja necessário estabelecer alguns parâmetros? Quem disse que não devemos morrer? Ou que morrer é em si algo triste? Quem sabe eu não deseje morrer para ir ao paraíso, poder voar, estar entre os meus, ainda que em espírito, partir deste corpo para outro, encontrar minhas 30 ou 40 virgens, pagar meus pecados logo de uma vez...?

Mas ela foi, finalmente. E penso que logo encontrará o Papa, que dizem nunca esteve tão sereno - talvez porque tenha absoluta convicção de chegou sua hora. E, penso que se o marido tem culpa no cartório, a vez dele ainda vai chegar.

Vai, Terri, vai. Vai com Deus, com Alá, com Javé, Buda, a Lua e com o Sol, vai com Iemanjá e com os Orixás, vai com Tupã, vai. Tenho certeza que, agora, teu corpo descansou...

5 Comments:

Blogger Helena Máximo said...

"Deixem Terri viver". Tal pedido pode até parecer respeitar os desejos e interesses da protagonista da história, mas, na verdade, esconde um capricho que passa ao largo disso. A mãe de Terri dizia: "devolvam-me minha filha". Mas, agora, Terri abandonou a morte em que se encontrava e deve ter renascido de alguma forma, dependendo das coisas em que ela mesma acreditava quando ainda estava realmente viva.

4/01/2005 11:28 AM  
Anonymous Anônimo said...

Deus me livre de ser uma morta viva! Concordo plenamente... Só ama quem alivia sofrimento e dor.Se é pecado utilizar a ciência através de métodos contraceptivos ou para evitar doenças como AIDS, porque se utilizar da mesma ciência para postergar um fato já consumado? Entre as leis de Deus e as leis da Ciência existem dois pesos e duas medidas?

4/01/2005 12:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vida e morte! Vida na morte e morte em vida!
Sangra a retina das podridões vistas
em mortes vívidas das frias paisagens
Do cume altivo das incertezas
da firmeza humana
Destronando o deus divino
declarando
Morte à vida! E que Viva a Morte!

(Arthur)

Só os covardes desistem...

4/01/2005 1:11 PM  
Blogger Mythus said...

O Rolf eu conheço de nome, mas agora conheço de texto. (Creio que já vi um texto enorme dele por aqui, mas tive preguiça de lê-lo)

"Tenho certeza que, agora teu corpo descansou..."

Nossa! Só isso pagou o post! Onde estava Terri? Até onde os médicos falavam a verdade em dizer que a mente dele já tinha ido embora? Eles também queriam se livrar daquele caso perdido? Até onde podemos dizer que ela ainda estava deitada naquela cama? Se é que havia sentimento ou sofrimento naquela matéria orgânica viva, a condenação à morte por fome talvez tenha sido cruel, mas talvez não menos cruel do que manter a agonia (se é que havia) dos sentimentos e sofrimentos da permanência naquele leito.

De fato, se ela já tinha ido, ou se foi naquele momento, a única certeza que temos é que finalmente cessaram os maus tratos àquele corpo.

Parabéns pelo texto.

4/01/2005 5:03 PM  
Anonymous Anônimo said...

Mues parabens pelo texto. Confesso que n tenho nada de muito nombre a dizer sobre o fato, mas, mesmo de modo vulgar eu falo:
-TUCANARAM A MORTE!
Hj em dia ninguém mais morre sem burocracia. É uma pena.

4/01/2005 7:13 PM  

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