Será que comemoramos?
Pois é. Ontem foi o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. E... é bem verdade que temos uma democracia muito recente em nosso país,... mas fiquei pensando no quanto poderíamos ter avançado nessas últimas décadas.
Em política, muito se fala sobre a imprensa. Reclama-se o tempo todo de coberturas mal feitas, de jornalismo vendido, de imprensa marrom, de manipulação... Muitas vezes, as críticas são muito mais que compreensíveis, já que não passam muito distantes da realidade.
No século passado, fazia-se jornalismo engajado. Os jornalistas eram chamados de publicistas: ocupavam cadeiras no poder e alardeavam suas idéias pelos “pasquins”. Ninguém ignorava o teor ideológico das publicações. Naquela época, jornalismo não dava dinheiro.
Hoje, faz-se jornalismo objetivo, imparcial. Os jornalistas que trabalham com as informações de maior valor de troca no mercado não podem muito frente às grandes estruturas das empresas de comunicação contemporâneas. Formaram-se grandes redes detentoras de veículos de informação, que gastam muito e, em compensação, trazem muitos dividendos. Não estamos falando só de dinheiro – isso todo mundo sabe.
De cem anos pra cá, não foi o papel da imprensa que mudou. Ela continua visando a (in)formação da sociedade. Só que agora, ela encontrou uma nova forma – extremamente mais eficaz – de exercer o convencimento. Seu discurso não está mais vinculado a um posicionamento político. Como o Barão de Münchhausen, a imprensa se puxou pelos cabelos e se autodenominou neutra diante das coisas que acontecem em sua volta. Uma grande estratégia mercadológica.
Mas esse é um discurso conhecido. Queria chamar a atenção para outra coisa.
A proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo foi rejeitada unanimemente no plenário da Câmara Federal em dezembro de 2004. Apesar de ter sido o próprio Presidente da República que enviou, a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas, o projeto ao parlamento, coisas “mais importantes” estavam em jogo. Mesmo porque os empresários da imprensa brasileira já haviam dado conta da tarefa de transformar a proposta de regulamentação da atividade jornalística do país na ressurreição mais cruel dos atos institucionais militares. O que mais me impressiona é essa capacidade da imprensa de cantar em uníssono, de juntar esforços para fazer uma campanha pesadíssima em cima de uma idéia infame e ainda conseguir ser convincente, abafando as suspeitas que inevitavelmente surgem a partir de unanimidades precipitadas.
E o governo votou contra. E a antiga esquerda votou contra. E ninguém mais falou nisso. Bem esses, que não poupam discursos como “não ganhamos porque a imprensa caiu em cima”, “não conseguimos porque não temos espaço na mídia”, “é difícil lutar contra a manipulação das empresas de comunicação e contra os empresários dos meios”, “isso é cobertura parcial”, “jornalismo vendido”, “imprensa marrom”,...
É... quem vai comemorar liberdade de imprensa nesse jogo de vaca amarela?
2 Comments:
Tenho uma análise um pouco mais asquerosa sobre o emaranhado de publicações brasileiras. O fato é que um núcleo muito pequeno produz os conteúdos que serão depois divulgados e reverberados como eco pelo Brasil. Os empresários que controlam este pequeno núcleo, formados pelos grandes veículos de comunicação de massa, ou mesmo os jornalistas que adquirem certa visibilidade e autonomia dentro desses veículos são pessoas que necessariamente se identificam com esse sistema, ou que são no mínimo, por ele toleradas. Mas por qual razão estes jornalistas são tolerados?
Por que escrevem o que mais se vende? Por que contribuem para a indústria do pensamento único, ditado pelo pequeno núcleo de publishers? Ou será que eles casaram com a filha do patrão e n podem publicar besteira pra agradar o chefe?
Na verdade não importa muito. Se der dinheiro eu tenho certeza que o grupo Globo será o primeiro a comer toda a bosta da vaca. Informação sempre foi uma arma. Política é só saber quando atirar.
Como o Congresso é que dita as regras sobre as concessões de rádio e TV e é o governo que salva as grandes redes de comunicação quando estão na pindaíba, nem sempre se precisa de muito dinheiro para comprar um poderoso veículo de informação. O importante é ter os contatos certos com o rabo bem preso.
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