O Crime do Padre Amaro
Antes de tudo, uma coisa é certa: todo o apoio à ação conjunta da blogosfera. Não dá pra deixar de gostar da internet ao ver "os nós da rede sendo afrouxados e multiplicados" pelo Nós na Rede.
Dia 28 de setembro é o Dia Latino-Americano pela Descriminalização do Aborto. Na terça-feira, dia 27, o presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, Benedito Dias (PP-AP) recebeu da Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, o projeto de lei que prevê a descriminalização do aborto com atendimento pelos serviços de saúde. É a primeira vez que o país se depara diante da possibilidade real de descriminalizar essa prática.
Então... somos a favor ou contra?
Antes de um posicionamento precipitado, é extremamente importante acompanhar a discussão e visitar aqui, ali, acolá, etc, etc, etc, etc.
Por aqui, leva-se em consideração alguns pontos fundamentais. Niguém deixa de recorrer ao aborto em razão da prática constituir crime no Brasil. Ninguém. Em razão disso, muita coisa acontece por aí. A prática do aborto clandestino é um problema que aumenta significativamente muitas taxas negativas nas estatísticas brasileiras. Depois de uma decisão incalculavemente difícil, as mulheres que podem, dispõem de um mínimo de segurança em clínicas particulares. As que não podem, fazem o que não devem. Médicos da rede pública recebem mulheres sangrando em todos os sentidos e o Estado se acomoda no silêncio, com vergonha de punir essa coisa classificada como delito, cuja dimensão real é inimaginável.
É evidente que a descriminalização não levaria a um aumento da prática. Ela só daria maior amparo e segurança a quem já tomou a decisão. No entanto, a descriminalização sozinha não é solução. Ter a possibilidade e o direito de abortar através do SUS não significa conseguir. Principalmente quando se leva em consideração que existe um tempo máximo para que ele seja realizado. Além disso, aborto sem orientação, apoio, assistência, continua sendo um problema de saúde pública.
É preciso, pelo menos, tentar tratar a questão de forma coerente. Já vi hipócritas defensores da descriminalização pressionarem funcionárias suas a praticar o aborto para que não abandonassem seus projetos profissionais. Afinal, para algumas aspirações pessoais, quatro meses de licença sempre será muita coisa. Já vi muitos argumentos contrários que não se preocupam com as condições de concepção de uma criança indesejada. O direito de nascer não necessariamente significa uma real garantia de vida.
Queria chamar a atenção para duas coisas. O Crime do Padre Amaro e O Crime do Padre Amaro. Ao me inteirar da discussão, lembrei do semblante de Gael García Bernal tentando estancar uma hemorragia com as mãos no meio do nada.
E... então? Qual foi o crime do Padre Amaro? Qual foi seu pecado? Ou as perguntas melhores seriam se estivessem no plural?